Essa é uma dúvida frequente, sobre um assunto também muito frequente. De forma direta, a resposta é sim. É frequente - e até esperada - uma piora dos sintomas no início do tratamento, mas essa fase é passageira. Se você começou a usar algum antidepressivo e está passando por esse momento agora, não pare de usar o medicamento antes de ler esse texto. Se houver dúvidas, busque profissionais da saúde que possam te orientar.
Como é essa fase de piora?
É comum o agravamento de sintomas depressivos (humor deprimido, sentimento de culpa, falta de interesse) e ansiosos (irritação, alerta, insônia), que são justamente os principais motivos que levam ao uso desses medicamentos. Até por essa contradição aparente, esses são chamados "sintomas paradoxais". Além dos sintomas psicológicos, podem surgir algumas alterações físicas, mais "gerais". Elas incluem dor de cabeça, tontura, aumento ou perda do apetite, aumento ou redução do trânsito gastrointestinal (diarreia ou constipação, com possibilidades de cólicas). Ainda, alguns antidepressivos podem causar sensação de boca seca, taquicardia, etc.
A maioria das pessoas que começa o uso de antidepressivos passa por uma fase inicial de piora de sintomas. Essa fase pode durar até pouco mais de uma semana. Em geral, ela passa na primeira semana, mas varia individualmente. Nesse período, a pessoa não vai perceber melhora causada pelo medicamento (efeito terapêutico), mas certamente vai experimentar justamente uma piora dos principais sintomas. Se o paciente não souber que esse efeito é esperado e passageiro, isso pode levar à descontinuação do tratamento. Por isso é importante entender o que acontece para buscar lidar com isso.
Qual é o motivo por trás dessa piora?
Não existe consenso irrevogável quanto às bases biológicas dos transtornos depressivos e ansiosos. A explicação a seguir é bastante aceita atualmente, juntando conceitos de diversas hipóteses neurobiológicas, como a das monoaminas, neurotrófica, do estresse, etc.
Transtornos ansiosos e depressivos são associados a alteração na liberação de neurotransmissores no cérebro, como serotonina, noradrenalina e dopamina. Em geral, a redução desses transmissores altera a quantidade de proteínas receptoras no cérebro. Esses receptores são responsáveis por "traduzir" respostas biológicas com base na interação com neurotransmissores. Se há falta de transmissores, o número de receptores aumenta, na tentativa de "contrabalancear" a comunicação no cérebro. É importante deixar claro que essas alterações neuroquímicas não são a causa desses transtornos, necessariamente. Isso seria muito simplista levando em conta a complexidade dos transtornos mentais.
Os antidepressivos atuam, de forma geral, aumentando a liberação de vários neurotransmissores, como os mencionados antes. Ao encontrar um sistema com maior quantidade de receptores, há uma ativação exagerada desses sistemas de transmissão, resultando em respostas descontroladas no sistema nervoso. Esses receptores estão em outras partes do corpo, mediando o funcionamento normal do coração, intestino, etc. Isso pode estar por trás dos sintomas piorados no começo do tratamento. Por isso, esse efeito de piora é esperado, e pode ser ainda mais intenso em pessoas com maiores alterações neuroquímicas. Há pesquisadores que consideram que quanto maior é a piora inicial de sintomas, melhores as chances de uma boa resposta terapêutica.
Por que é importante manter o tratamento?
Com o uso mantido do medicamento, os níveis dos receptores se normalizam, retomando o funcionamento "normal" do cérebro. Quando isso acontece, os sintomas piorados passam, e começam a surgir os efeitos terapêuticos. Parte dos efeitos esperados dependem da reorganização de neurônios e comunicação entre eles, o que também leva tempo. Por isso, os efeitos terapêuticos dos antidepressivos só começam depois de 3 semanas, levando até meses para seu estabelecimento completo.
É importante saber disso para não deixar o uso do medicamento por achar que "ele não funciona". Infelizmente, a resposta esperada não é instantânea ou rápida, como a dos analgésicos. Também é comum que você tenha que tentar outras opções de antidepressivos até encontrar o que funcione melhor para cada caso. Então paciência é central nesse processo.
O que fazer para reduzir o impacto dos sintomas?
Como essa piora é esperada, alguns médicos já adaptam a prescrição dos antidepressivos para reduzir o impacto desse momento. É comum o uso de uma dose menor do antidepressivo nos primeiros 5 a 7 dias de tratamento, para evitar sintomas tão severos. Outros adicionam o uso de um medicamento sedativo/hipnótico (como clonazepam, zolpidem, alprazolam) nas primeiras semanas, para o controle desses sintomas, se necessário.
Fora essas medidas, que são tomadas pelo prescritor do medicamento, você também pode adotar algumas medidas para reduzir os sintomas. Prática de exercícios físicos podem melhorar a qualidade de sono e ansiedade. Evitar o uso de TVs e celulares no período da noite também podem melhorar o sono. Alguns calmantes fitoterápicos podem ser adotados, como aqueles com maracujá (Passiflora spp.).
O medicamento que eu uso é antidepressivo?
É importante você saber que antidepressivos são usados para várias condições, além da depressão. Eles são usados para dor crônica, ansiedade, enxaqueca, etc. Então se você teve que fazer uso de um antidepressivo, isso não quer dizer que você tem depressão, necessariamente.
Se você ficou na dúvida se usa algum antidepressivo, confira seu medicamento. Procure na embalagem ou bula o nome da(s) substância(s) ativa(s). Os principais antidepressivos atuais são:
Inibidores da monoaminaoxidase: tranilcipromida, moclobemida, selegilina;
Tricíclicos: imipramina, nortriptilina, clomipramina, desipramina, amitriptilina;
Inibidores seletivos da recaptação de serotonina: fluoxetina, citalopram, escitalopram, fluxovamina, paroxetina, sertralina;
Inibidores da recaptação de noradrenalina e serotonina ("duais"): venlafaxina, desvenlafaxina, duloxetina;
Outros: bupropiona, atomoxetina, mirtazapina, agomelatina, trazodona, vortioxetina, maprotilina.
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